E se der certo?

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          Quem aqui, no momento de tomar uma decisão, já se fez a pergunta: e se der errado? Quantos de nós já não nos perguntamos isso, antes de fazer uma viagem, antes de saltar de paraquedas, antes de ir pra um país em que se fala outra língua, antes de chamar alguém pra sair, antes de casar, antes de recomeçar uma nova vida sozinho, antes de decidir ter um filho, antes de fazer uma prova pra ingressar na universidade, antes de abandonar um emprego, antes de iniciar uma nova carreira, antes de empreender num novo negócio, antes de mergulhar num projeto novo, antes de investir seu dinheiro e tempo em algo que nunca fez. Enfim, são tantas as situações em que nos fazemos essa pergunta, que seria impossível listar todas elas aqui.

            Eu mesma já me peguei fazendo essa pergunta a mim mesma inúmeras vezes. Talvez muito mais do que muitos de vocês. E foi de tanto me fazer essa pergunta – e se der errado? – que cheguei até aqui. Sabe como? Vou contar um pouquinho pra vocês.

             Acredito que cada um de vocês, de formas distintas, em algum momento da vida já parou e se perguntou: – Peraí, o que eu estou fazendo, pra onde eu estou indo? E é natural que o ser humano se faça essa pergunta, alguns mais, outros menos, afinal de contas, a vida não é linear. Entre nascer e morrer existe uma grande jornada que se chama vida e é nela que estamos agora. Se fôssemos traduzir isso em imagem, a jornada da nossa vida seria como o próprio pulsar do nosso coração desenhado por um eletrocardiograma, mas descompassado. Uma linha que segue reto, sobe, desce, como ondas, com altos e baixos, que representam os nossos desafios nos pontos mais baixos (perdas, dores, lutos, frustrações), nossas conquistas nos pontos mais altos (vitórias, alegrias, plenitude, superações) e os momentos em que simplesmente vivemos e seguimos em frente numa linha reta. Eu diria que é nessas horas que muitos de nós nos perguntamos o que estamos fazendo da vida, ou seja, quando a linha segue reto, como se não houvesse qualquer pulsação.

          E isso não é exclusividade sua ou minha e nem é um problema. E que bom que nos fazemos essa pergunta, porque é sinal de que estamos vivos! Einstein, além de todo legado de conhecimento e invenções que nos deixou, escreveu uma frase certeira que resume muito bem essa imagem que descrevi: “Nada na vida é estático, se não estamos crescendo, estamos morrendo.”. Essa é uma sentença dura, mas muito verdadeira, que define claramente a imagem não só do pulsar do nosso coração, como também da nossa jornada.

           Num eletrocardiograma, que registra em formas de linhas grafadas num papel ou numa tela o pulsar do nosso coração, a linha reta simboliza uma parada cardíaca, ou seja, quando o coração para de bater. Neste exato momento é emitido um alerta sonoro, que sinaliza a enfermeiros e médicos de que aquele coração parou de bater e, então, vários procedimentos são realizados, várias decisões são tomadas no que tange às ações a serem feitas para reaver aquela vida e colocá-la em movimento novamente. Diante do êxito dessas ações, aquele coração volta a pulsar e uma vida é salva naquele instante, naquele segundo. E quando não há mais o que fazer, simplesmente a linha permanece reta, sem oscilações e simboliza o fim de uma vida na Terra.

            O que acontece antes do nascimento e depois da nossa morte, envolve a crença religiosa de cada um, e pode ser que para muitos, inclusive para mim, a vida não acabe ali, mas não vou me ater a isso nesse momento, até porque respeito a diferença e o que estou tratando aqui, neste momento, é da nossa jornada nesta Terra, nesta vida.

            Assim sendo, traduzindo esta metáfora que utilizei para ilustrar a jornada da nossa vida, as oscilações das ondas, o pulsar do coração, simbolizam os nossos movimentos, o nosso caminhar, nosso crescimento, inclusive quando a linha oscila para baixo. Sim! Nos momentos de dor, de desafio, há sempre uma possibilidade de cura, se superação. Em, toda dificuldade existe uma oportunidade. Cada experiência que vivenciamos em nossas vidas nos ensina alguma coisa. Tudo é uma questão de ponto de vista, do significado que atribuímos a determinado fato, a algo que acontece em nossas vidas.

         E aí chegamos ao ponto chave. Se consultarmos o dicionário veremos que a palavra “significado” nada mais é do que “a relevância que se dá a algo” e assim sendo, podemos dizer que um fato pode possuir diferentes significados, certo? Um exemplo disso poderíamos ver em algumas cenas do esporte, em que enquanto uma seleção de futebol lamenta e chora a derrota, outra, como em algumas seleções do continente africano, por exemplo, os jogadores comemoram dançando lindamente a oportunidade de estarem ali, ainda que diante de uma derrota ou mesmo eliminação. É o mesmo fato, com diferentes significados atribuídos. Assim como é na vida! Coisas acontecem conosco todos os dias, significados são atribuídos a tudo o que se passa, mas quais significados temos atribuído aos fatos da nossa vida?

            É nesse ponto que reside o problema para a grande maioria das pessoas, é aí que está o nó da questão, pois a maior parte de nós, quando está diante de algum desafio ou até mesmo de situações do dia-a-dia, atribui significados negativos às diversas situações que se passam. E esses significados são reforçados diariamente a cada decisão tomada devido a um significado atribuído, ou seja, lembrando, diante da relevância que se dá a algo. Essa relevância é dada a partir do ponto de vista que olhamos para determinada coisa, ou seja, pela nossa lente. E a nossa lente é algo que simplesmente colocamos nos nossos olhos e passamos a enxergar o mundo sob aquela ótica, a nossa lente é algo que vem sendo construída em nós desde que nascemos. A lente através da qual enxergamos o mundo e damos significado a tudo o que acontece neles está diretamente relacionada às experiências que vivenciamos na nossa infância, principalmente, pois é a fase de mais intensa aprendizagem, e não me refiro aqui à aprendizagem escolar, mas ao que à criança vivencia e conhece do mundo dentro e fora de sua casa, que vão formando seus valores e a forma como vê o mundo.

            A maior parte das pessoas desconhece a relevância do entendimento da influência que os fatos ocorridos em nossa infância exercem sobre as nossas vidas e nas escolhas que fazemos quando adultos. Muitas dessas escolhas são resultantes do que vimos, ouvimos e vivenciamos. Às vezes são experiências vividas por nós, mas também tem um grande poder sobre as nossas vidas e escolhas o que vimos acontecer no nosso círculo familiar ou pessoas próximas a nós, de nossa convivência. São fatos que nos marcaram de forma tão intensa, conscientes ou não, que acabam por interferir nos padrões de pensamentos e ações que temos em nossa vida adulta. E ficam gravados porque foram registrados com emoção, ainda que inconscientemente.

            Quando entendemos o poder que o significado que atribuímos a esses fatos exerce sobre as nossas vidas quando adultos, ou seja, quando adquirimos consciência sobre uma determinada situação, é como se tirássemos a sombra de trás de nós e a colocássemos diante de nós, ou seja, diante dos nossos olhos, de forma que a podemos ver, adquirindo consciência dela, que deixa, assim, de nos assombrar. E podemos neste movimento, mudar a perspectiva do nosso olhar, ressignificar o que vemos, sentimos e vivenciamos. O que se passou conosco não podemos mudar, mas podemos escolher de que forma vamos lidar e olhar para isso daqui em diante, se o fato será âncora ou mola em nossas vidas e isso faz toda a diferença, muda o jogo todo, porque muda a perspectiva.

            Uma vez conscientes disso, temos uma escolha a fazer, porque quando colocamos a sombra à nossa frente, nos tornamos conscientes dela e só podemos mudar aquilo do qual temos consciência. Uma vez feito, as cartas estão postas e cabe a nós traçar os novos rumos. É um processo diário a ser construído, não é fácil, mas é possível.

            Estamos tão acostumados a tomar decisões pautadas no medo, um medo fruto condicionamentos registrados na infância, que desaprendemos a nos perguntar: e se der certo? Essa pequena mudança de perspectiva, muda tudo. Porque quando mudamos a palavra “errado” para a palavra “certo” o foco da pergunta muda completamente. Se antes tudo se concentrava em todas as formas de algo dar errado, em tudo de ruim e negativo que poderia acontecer diante de uma escolha, trazendo ainda mais medo de tomá-la, a pergunta “esse der certo?” nos abre novamente um leque de possibilidades, nos mostra um horizonte possível, nos coloca diante de tudo aquilo que estamos deixando de vivenciar e experimentar como possibilidade por medo de tomar uma decisão.

            Sendo assim, nos próximos dias, experimente substituir a pergunta por: E SE DER CERTO? E depois volte aqui pra me contar como foi. Te espero.

 

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