Educar para a cidadania planetária

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Nos últimos meses tenho lido e estudado um bocado sobre autoconhecimento, sobre neurociência e alguns campos da física quântica que tem me feito pensar muito sobre a nossa relação com o universo, sobre essa nossa existência cósmica em que tudo está conectado, pois somos feitos da mesma matéria que a natureza, existimos enquanto energia e produzimos vibrações que se deslocam, se tocam, atravessam e somos atravessados. E pensando assim, por que não pensar sobre uma cidadania planetária? Uma cidadania que nos concebe como conectados a um ser vivo chamado planeta Terra, num vínculo profundo e racionalmente complexo em sua compreensão, mas que nos fala de um pertencimento do ser humano ao planeta. A própria expressão Pachamama que pude ouvir muitas vezes quando estive no Peru e na Colômbia e onde pude estar em contato com indígenas da região e também através de contos e da sabedoria andina, quechua e Inca, faz forte referência à essa noção primária e cosmológica que entende a Terra como nossa Mãe, a Mãe Terra, à qual todos os nós estamos visceralmente conectados e nesta relação quase uterina, tudo o que fazemos e produzimos de bem ou de mal à Mãe Terra, à nossa Pachamama, recai também sobre seus filhos, que somos nós, ou seja, quando destruímos o planeta, estamos destruindo a nós mesmos. E urge que tenhamos essa consciência.

globo terrestre

A pergunta que se coloca neste momento é: como construir, então, uma cidadania planetária num país globalizado, colonizado como o nosso e tantos outros? E a resposta está em entender que planetário não é sinônimo de uniformizado, de globalizado, uma cidadania planetária pressupõe o respeito à diferença, à diversidade e à biodiversidade, que só nos enriquecem.

É necessário que entendamos a riqueza desse conceito, desse paradigma existencial que é a cidadania planetária a trabalhemos dentro da educação, que pode renovar e transformar a nossa prática educativa, pois formando cidadãos planetários, estaremos formando seres mais humanos, conscientes e defensores dobem comum, que é o nosso planeta e tudo o que nele existe e habita, um defensor da Terra, pois se compreende como parte dela.

É fato que um ambiente degradado produz relações humanas também degradadas, como presenciamos hoje, a Terra está adoecendo e nós estamos padecendo junto com ela. E trazer essa noção de cidadania planetária pra dentro da educação, é entender que somos o veneno, mas que também somos o antídoto para os nossos males.

Precisamos entender que a sustentabilidade e o social caminham juntos, amadurecem juntos e que essa roda só gira se os dois caminharem de mãos dadas e trabalhar essas ideias, essas nossos na educação, é mais do que necessário, é urgente, pois o que vivenciamos agora em nosso país, não se trata somente de uma crise política ou econômica, se trata de uma crise civilizatória, que não é nem de longe uma particularidade do Brasil. É uma crise que se dá pela desumanização do ser, pela falta de consciência, pelo domínio da educação pela lógica do mercado, que se tornou hegemônica dentro das escolas, mas que tem sem revelado desastrosa, pelo estímulo à competição, ao consumismo, ao individualismo, que reforça um modelo de produção que tem se apresentado como sinônimo de destruição. Freire já apontava lá atrás para o fracasso desse modelo de educação.

Cabe a nós pôr em prática um paradigma educacional que se contraponha este paradigma consumista que impera hoje, opondo a este modelo de civilização colonizado, uma civilização planetária, uma utopia sim, mas que se não sonharmos ou não acreditarmos que é possível, nunca a experimentaremos, como temos experimentado e vivenciado hoje o que um dia foi o sonho e a utopia de grandes pensadores e educadores. Precisamos ser otimistas e sonhar sempre.

 

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