A reconversão cultural da escola: por uma escola cidadã

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ação cultural na escola, escola cidadãQuanto mais conhecimento busco, mais me encanto por Paulo Freire! Ouço muito dizer que ele era um homem à frente do seu tempo, mas acredito muito na ideia de que ele era um homem do seu tempo, que teve sensibilidade e criticidade suficiente para enxergar que as sementes que estavam sendo plantadas naquele momento não gerariam bons frutos e na primeira tentativa de plantar uma semente do sonho de fazer germinar uma Educação Popular em nosso país, foi interrompido exilado, mas não silenciado, pois puderam exilar seu corpo, mas não suas ideias. E são essas sementes plantadas durante a ditadura de 64 que vemos germinar agora, neste momento sombrio que estamos vivendo, em que vemos a tentativa de apagamento e silenciamento da escola, do ideal, do projeto de uma escola cidadã, em prol de uma escola pautada num projeto neoliberal de educação, pautada na lógica do mercado, que prioriza um tecnicismo pedagógico em detrimento da reflexão crítica, que é justamente o que tem faltado à nossa sociedade, que a faria enxergar agora o momento crítico que estamos vivendo para que pudéssemos reagir a tudo isso e fazer resistência ante a essa onda neoliberal, que tem levado a ações baseadas no ódio e na intolerância, ideias e princípios estes que estão na contramão de tudo aquilo que Paulo Freire, há 50 anos vem nos propondo com sua Pedagogia do Oprimido.

Freire propõe uma educação que prioriza a construção da autonomia do sujeito, um sujeito capaz de refletir criticamente, pra que não se torne refém da lógica do mercado, um sujeito soberano e livre, ao contrário dessa educação neoliberal que tira a alma do professor, com materiais, apostilas, currículos, provas e testes prontos, que anulam sua alma que é a autoria. A educação tecnicista é exatamente isso, a falta de formação social e de consciência crítica, como tem sido imposto verticalmente aos nossos alunos tanto nas escolas públicas como nas particulares, salvo algumas exceções.

Essa formação de consciência critica se dá justamente dentro da escola, que na visão freiriana é onde se forma social e politicamente. A escola é política sim! E esses movimentos conservadores que tentam silenciar a escola, como o “Escola sem Partido”, nada mais são do que a tentativa de asfixiar o espírito crítico, que é a alma da educação emancipadora. Na perspectiva da Escola Cidadã, a escola é entendida como uma escola de comunidade, de companheirismo, dessa experiência tensa da democracia, que é justamente o que querem nos tirar com esses novos projetos e currículos que querem nos impor de cima pra baixo, fruto justamente dessa ausência de espírito crítico.

Essa escola una e diversa que almejamos, que promove a igualdade, mas respeita a diversidade fere aos interesses de mercado, que quer pasteurizar as diferenças e se mostra excludente, reforçando discursos de ódio, como temos vivenciado, que vão de encontro à escola de paz que desejamos. A “reconversão cultural da escola” se mostra necessária e urgente, pois estamos sento engolidos por esse monstro chamado “mercantilização da educação”, que fere os princípios da autonomia, da liberdade, da reflexão crítica e do respeito à diversidade, princípios básicos de nossa cidadania.

 

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